A Cardiopatia reumática é um problema de saúde pública em nosso meio, com mais de 16 milhões de pessoas no mundo e causando 350.000 mortes por ano. No Brasil, estima-se que existam 10 milhões de casos de infecção estreptocócica por ano, e desses 300.000 evoluem para febre reumática, e 15.000 para cardiopatia reumática. Apesar das tecnologias disponíveis e utilizadas para rastreamento dessa doença, os números ainda são altos, e muitas crianças de regiões pobres continuam sem diagnóstico e prevenção secundária.
Tradicionalmente, o diagnóstico da cardiopatia é feito pela ausculta cardíaca, que detecta o sopro por disfunção valvar nos pacientes com história de febre reumática. No entanto, 20 anos podem passar entre a ocorrência da febre reumática e o aparecimento dos sinais e sintomas clínicos. O Ecocardiograma detecta o acometimento valvar precoce, antes mesmo do aparecimento de sintomas.
Nos últimos cinco anos, os médicos do CNMC demonstraram que o ecocardiograma é mais sensível que o exame físico para o diagnóstico desta moléstia, detectando 3 a 10 vezes mais casos de cardiopatia reumática que o exame físico. Com o avanço da tecnologia, aparelhos de ultrassom transportáveis estão disponíveis a preços acessíveis no mercado. Esses aparelhos são de fácil manuseio, e tem grande capacidade de armazenamento de dados.
Em 2010, os pesquisadores da CNMC utilizaram os aparelhos transportáveis de ecocardiografia para rastrear 5.000 crianças assintomáticas na Uganda. Das crianças examinadas, 2% apresentavam alterações valvares compatíveis com cardiopatia reumática. Corroborando esses achados, a Organização Mundial de Saúde recomenda o rastreamento dos pacientes de áreas endêmicas com o ecocardiograma. Entretanto, poucas tentativas foram feitas para instalação de um programa de rastreamento nas zonas endêmicas, devido ao limitado número de profissionais nessas áreas. Para contornar essa situação, planejamos treinar profissionais da saúde que trabalham na atenção primária para melhorar o acesso das crianças de risco aos cuidados necessários. Essa medida permitirá um rastreamento mais abrangente da cardiopatia reumática. Recebendo o treinamento adequado, profissionais da saúde deverão ser capazes de liderar as buscas necessárias para a detecção precoce da cardiopatia reumática. Além disso, a telemedicina será utilizada para continuação do treinamento e suporte dos profissionais que realizarem os exames.
Uma vez que o diagnóstico de cardiopatia reumática for feito, a profilaxia secundária será instaurada. Na maioria dos casos, um único episódio de febre reumática pode não causar a cardiopatia ou apenas um leve acometimento cardíaco. As recorrências que causam dano maior, e uma vez que o paciente teve um episodio de febre reumática, as chances de novo episódio são 7 maiores. O uso da penicilina a cada 3 ou 4 semanas evita a recorrência, e também permite a resolução do acometimento cardíaco leve.
Os resultados desse projeto trarão implicações regionais, nacionais e globais. Os dados coletados irão ajudar na maior utilização do ecocardiograma para diagnóstico da cardiopatia reumática no Brasil e no mundo.
Período: 2013-2016.