Pesquisadores do Centro de Telessaúde do HC-UFMG são destaque em revista internacional


08.02.2019

O grupo de pesquisa PROVAR (Programa de Rastreamento da Valvopatia Reumática) publicou, na última semana, o artigo “Simplified Echocardiography Screening Criteria for Diagnosing and Predicting Progression of Latent Rheumatic Heart Disease” na revista “Circulation Cardiovascular Imaging”, uma das mais respeitadas da área. Participaram do estudo três pesquisadores do Hospital das Clínicas da UFMG, os professores Antonio Luiz Pinho Ribeiro, Bruno Ramos Nascimento e Maria do Carmo Pereira Nunes, as doutorandas Kaciane Oliveira e Adriana Diamantino e vários alunos de iniciação científica ligados ao projeto.

O trabalho faz uma análise dos mais de 12 mil ecocardiogramas realizados no projeto PROVAR e de dois estudos com mais de 10 mil pacientes realizados nas cidades de Kampala e Gulu, em Uganda, para tentar definir um escore de gravidade para as alterações vistas ao ecocardiograma simplificado. Foi demonstrado que a presença de cinco tipos de alteração valvular – às quais são atribuídos pontos e calculado um escore final –  está associada a um maior risco de progressão da Cardiopatia Reumática para formas mais graves. Com o desenvolvimento deste escore, pode-se classificar as crianças em três grupos de risco (baixo, intermediário e alto) para se definir melhor quais terão benefício de um acompanhamento médico mais próximo e/ou profilaxia secundária com Penicilina.

Considerando-se a importância epidemiológica da Cardiopatia Reumática no Brasil e em Uganda, a publicação deste escore simplificado pode ser um marco para a redefinição de critérios diagnósticos e prognósticos para a doença, permitindo uma atenção mais individualizada às crianças acometidas e maior foco naquelas sob alto risco de evolução desfavorável.

O PROVAR, criado em 2014, é uma colaboração entre a UFMG e o Children’s National Health System de Washington, nos Estados Unidos, no qual uma equipe de não-médicos (enfermeiros e técnicos) realizaram ecocardiogramas simplificados em escolas de baixa renda nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e Montes Claros. Os exames são enviados por telemedicina para o Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da UFMG e interpretados por médicos especialistas no Brasil e também nos EUA.

A partir deste exame, determina-se se o paciente tem alterações sugestivas de Cardiopatia Reumática, sequela cardíaca (principalmente relacionada às válvulas do coração) resultante de infecções repetidas, sobretudo de garganta (amigdalites), pela bactéria streptococcus. A doença consiste em um problema de saúde pública, com mais de 33 milhões de pessoas acometidas no mundo, causando 320 mil mortes por ano. No Brasil, estima-se que existam 10 milhões de casos de infecção estreptocócica por ano, sendo que 300 mil evoluem para febre reumática e 15 mil para cardiopatia reumática. Estima-se também que cerca de 50% das cirurgias cardíacas complexas no país sejam para tratamento das consequências da Cardiopatia Reumática.

Estudos prévios sobre a doença mostraram que o diagnóstico precoce e a profilaxia secundária (com injeções de penicilina) são as melhores maneiras de evitar as complicações dessa cardiopatia. Isso porque a infecção de repetição por esse agente provoca uma reação auto-imune denominada febre reumática aguda, que a cada nova ocorrência (nova infecção) aumenta a chance de acometimento cardíaco.

Existem medidas que podem ser tomadas para prevenir e controlar a febre reumática, mesmo em regiões de pouco recurso. Tratar a infecção estreptocócica (prevenção primária) reduz o número de casos, reduzindo a necessidade de atenção terciária (cirurgia de troca valvar, valvoplastias, cuidados médicos avançados) que tem disponibilidade limitada em muitas das regiões endêmicas. Entretanto, propõe-e que em áreas endêmicas, principalmente em regiões de baixa renda, o ecocardiograma (ultrassom do coração) simplificado, realizado junto às populações, pode ser uma ferramenta para o diagnóstico e tratamento precoce da Cardiopatia Reumática. Já se demonstrou que o exame detecta alterações cardíacas antes que elas sejam identificáveis pelo exame clínico.

Assessoria de Comunicação HC-UFMG

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